quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ENFIM UM ANO NOVO!!


Que 2009 seja cheio de bons momentos!!
Bom, o post de hoje era para ser só a poesia da porteirinha da minha filha, metáfora perfeita pra esse fim de ano. Que 2009 chegue renovador e forte pra valer como o dentinho novo que já desponta no sorrido de Clarice e que 2008 fique guardado na memória, numa caixinha de velhas lembranças ou então jogado em cima do telhado. Mas não posso deixar de falar das imagens que ando vendo pela internet (a televisão jamais divulgaria isso!) e que vou mostrar aqui sim porque o mundo não é cor de rosa, porque acho que todos precisam ver, porque a guerra é uma indignidade, porque existe a intolerância e a morte gratuita de crianças. São imagens fortes demais. Leiam os comentários de Saramago e Nassif sobre o que anda acontecendo de mais repugnante nesse mundo. E falo disso aqui e agora porque acredito que seremos capazes de mudar essa realidade. Não tem aquela história de que o farfalhar das asas de uma borboleta podem provocar um tsunami? Pois é, podemos, no nosso mundo, com pequenas ações e pensamentos, fazer com que essa realidade imunda fique apenas como exemplo do que não queremos e não como contraponto de nossos desejos!
Os cadáveres de cinco irmãs palestinas de 4 a 17 anos mortas no bombardeamento nocturno israelita a uma mesquita do campo de refugiados de Yabalia (Gaza) jazem num hospital. Agencia France Press - Publicada en El País - 27-12-2008

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Meu sobrinho, João Pedro, no auge dos seus três aninhos, olha bem para a minha mãe, Maria, vasculha o estojo, escolhe um lápis azul e diz: "Vó, pinta o meu olho da cor do seu?"

VESTÍGIOS DE UMA NOITE CARIOCA




segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CAIO FERNANDO ABREU


"pois é, eu não quis, nem sei por que, tem um amigo meu que diz que tudo é bom como experiência, mas tem umas experiências que eu não quero mesmo ter porque acho que tudo vai ficar mais difícil e eu não vou conseguir mais ficar dentro de mim mesmo. Se eu não conseguir ficar mais dentro de mim mesmo eu vou ficar sozinho, porque não estou acostumado a ficar fora de mim mesmo."

trecho de ovelhas negras

AGENDA



coisas para se fazer na última segunda-feira de 2008
ouvir piazzola e gardel na vitrola,
tomar café, lavar louça, passar vassoura pela casa,
acabar de desfazer as malas,
cortar o sabão da minha mãe,
fazer uma máscara pro rosto,
cuidar das mãos e dos pés.
esconder os fios brancos do meu cabelo.
eleger cores para o ano novo.
provocar meu coração
ouvindo aquele disco lindo da Fátima Guedes.
durmir nas nuvens numa tarde sem nuvem alguma.
pegar o ônibus e descer no ponto errado,
pagar a última conta do ano,
passear por Laranjerias e Cosme Velho.
comprar flores amarelas e brancas.
cozinhar arroz integral,
cortar beringela, tomate, cebola, alho e o dedo.
preparar um banho morno com chá e oléo de amêndoas.
fazer lanchinho na casa Cavè
ver o Makely no CCC

ANTI-MÉTODO PARA LEITURAS

Disse que estou lendo 5 livros de uma vez. São eles: 1808 do Laurentino Gomes, que espero terminar antes do fim de 2008, já que é uma leitura atrasadíssima. O Pequeno dicionário de percevejos do Nelson de Oliveira, reunião de contos deliciosos - esse livro está quase indo pra estante, mas ainda frequenta a minha cabeceira. Estar sendo, ter sido, já citado duas vezes aqui, livro FANTÁSTICO da Hilda Hilst. Coisa parecida pra mim só o Ùltimo round do Cortázar. Leio ainda Ovelhas negras de Caio Fernando Abreu, livro que só existe porque o autor tinha apreço pelos rascunhos e não jogava fora nada do que escrevia. Esse livro é como uma pequena coleção de socos no estomâgo. Ácido, corrosivo e cruel, pois apesar de abarcar um período longo (de 1965 a 1995), grande parte foi escrita no difícil período do exílio de sua geração, durante a ditadura. E, finalmente, Cartier-Bresson, o olhar do século, biografia de um dos maiores fotógrafos do mundo, de Pierre Assouline. Esse é leitura quase obrigatória, adoro biografias e adoro fotografia. Agora já estou de olho no Rio de Janeiro 1930-1960: uma crônica fotográfica, de George Ermakoff, que preciso!!!! Enfim, só leitura prazerosa.

O CADERNO DE SARAMAGO

Não deixem de acompanhar o maravilhoso Caderno de Saramago. O último texto é de uma delicada sensibilidade, vê de perto um recorte de uma família, uma família como uma das nossas, talvez.

domingo, 28 de dezembro de 2008

RETRATO DA COISA ENQUANTO EU

Neste fim de ano estou sozinha. Sou sozinha. Todos somos! Difícil e bom, dor e delícia. Escolha minha. Vou onde quero, faço o que tenho vontade. Meus companheiros são os discos, os livros, o computador, a cidade e o vento que sopra nela. Não me preocupo com a festa de passagem de ano, passo até em silêncio, se for o caso, e não ficaria deprimida por isso. Acho bom o silêncio nessa hora em que poucos podem ser ouvidos. Sou uma pessoa impaciente, curiosa, rápida e incapaz de dominar meu próprio temperamento. Procuro secretamente o meu foco e o meu modo auto-limpante. Sou frost-free, não deixo meus resíduos por aí. Escondo meus desatinos, por mais que eles gritem. Leio 5 livros ao mesmo tempo, vejo um filme por dia, faço minha própria comida, durmo pouco e isso me faz bem. Gosto muito dos meus amigos, mas sou incapaz de perdoar certos deslizes. Namorado de amiga minha não é homem, no sentido mais viril e sexual da definição. Isso pra mim é regra e não tem discussão. Posso soar conservadora, mas meus sentimentos não toleram certos excessos. Eu, quando amo, amo muito, sou protetora. Por isso sou mãe, canalizo esta energia maternal instintiva. Pesco uma frase de Caio Fernando Abreu: "depois de todas as tempestades e todos os naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro". Um sobrevivente é acima de tudo um forte. Não sou mística ou religiosa. Não rezo, não oro, não peço, apenas agradeço. Deus para mim são as coisas bonitas, as atitudes boas, a manifestação da(s) natureza (s), os momentos inesquecíveis, o olhar cúmplice dos amantes, o sorriso de uma criança. Deus pode ser quem ou o quê. Não importa. Gosto, no entanto, do I Ching e do tarôt do Crowley. Astrologia me confunde, sou cética demais pra isso. Posso ser áries com ascendente em virgem ou áries com ascendente em leão, e os dois parecem fazer sentido (minha mãe não sabe exatamente a hora do meu nascimento) . Gosto de pular de ponte sobre um rio de águas profundas, fazia muito isso na infância, mas gosto também de ver a água tranquila, decantando devagar. Sou mais cachoeira do que mar. Adoro o Rio de Janeiro porque tem montanhas. Leio os jornais todos os dias. Tenho sono leve, acordo com passarinho cantando. Bebo litros de água. Tomo chá diariamente. Gosto de escrever, às vezes nem quero, mas quando vejo estou com lápis e papel na mão. Minhas melhores idéias tomam a primeira forma com lápis e papel, tenho apreço pelos rascunhos. Meu relógio biológico é preciso, conheço muito bem meu corpo. E acho que não existe terapia melhor do que amar e receber amor, do que gostar de verdade do que se faz e ser reconhecido por isso. Ser mulher pra mim é uma busca constante, não tem fim, penso. A morte não me preocupa. O desejo me move. Uma fogueira arde em mim, transformadora, destruidora, pura combustão. O vento mexe comigo, a água me acalma e a terra me apraz. Sou forte, fogo, força. Mas sou pequena, teimosa, confusa e autoritária, porque quando vi já fiz e exijo troca. O que eu não sou deixo pra depois.

CAFÉ DE LOS MAESTROS


Vou chover no molhado. "Cafe dos maestros", de Miguel Kohan, é um filme bonito e uma espécie de Buena Vista Social Clube, onde Gustavo Santaolalla (responsável pela trilha sonora de filmes como "O segredo de brokeback mountain" e "Babel") faz o papel de Ry Cooder. Os velhos músicos são outros, tão excepcionais como em Bunena Vista, o idioma, no entanto, é o mesmo. Não tem como não gostar já que a música é excelente e o naipe de músicos fantástico e absolutamnte cativante. O grande lance do filme é juntar toda essa velha guarda do tango pré-Piazzola em um memorável espetáculo no Teatro Colón. O projeto inclui ainda um CD e um livro de fotos (pra mim não existe instrumento mais fotogênico que o bandoneón). Nostágico como tem que ser, o documentário não deixa de ser triste, bate um coisinha no peito e isso, afinal de contas, é o tango!

O filme explora ainda a genealogia do tango entre os imigrantes, negros e o candombe uruguayo. Essa raiz multicultural do tango, apesar de sua identidade ser marcadamente argentina, possibilitou com Piazzola a revolução do gênero. Vide o maravilhoso disco "SUMMIT - Reunión Cumbre" de Gerry Mulligan e Astor Piazzola e outros.
Bom, depois de assitir a Café de los maestros não nos resta muita coisa a não ser ouvir um tango argentino, dá-lhe Pugliese e Piazzola na vitrola!

PELO TELEFONE

Esse vídeo dispensa palavras...

sábado, 27 de dezembro de 2008

HILDA HILST

as lagartas subiam nos troncos das árvores.
ela: bonitas, não?
ele: tem gente que morre de medo
ela: tem
ele: o melhor é jogar álcool e queimá-las
ela: meu deus!
ele: é, porque elas destroem as folhas, matam a árvore
ela: ah, é? mas são tão bonitas, não? eu não poderia queimá-las por causa da beleza
ele: mesmo sabendo que elas vão destruir as folhas? folha é menos vida.. ou não?
ela: também não sei, mas as lagartas parecem mais... mais carne, hen? e carne tem a ver com a gente
ele: eu me chateio com esse tipo de reflexão
ela: não me diga benzinho
ele: você se aborreceu
ela: e com a minha boceta você se chateia?
ele: é melhor eu ir embora...
ela: e esfregando o meu rabo na sua cara você se chateia?
ele: tô indo embora
ela: e te dando esse tiro no peito você se chateia?
o homem caiu ali no jardim, estatelado, ela só disse"que cara cafajeste", correu, sumiu. um menino viu a mulher correndo até ela sumir. virou-se e pensou: que mulher linda, meu, que rabo! taí uma que eu queria que esfregasse o rabo na minha cara. riu, muito contente.

é o teu primeiro conto Júnior?
é
é bom
você não nada mais, Júnior?
não

estar sendo, ter sido

TELECO TECO OPUS N. 1

Das apresentações no Cine Odeon do espetáculo "O samba é a minha nobreza", um dos momentos mais inesquecíveis pra mim era quando entrava o Zé Cruz, que foi membro do lendário grupo "A voz do morro", que nos agraciava com o som do seu chapéu de palha e seu ar de malandro sério! E navegando por aí, deparei-me com um post no blog do Luis Nassif sobre o grande Dilermando Pinheiro, professor de Zé Cruz na arte de batucar no chapéu de palha. Não resisto e reproduzo essa preciosidade!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

MADEMOISELLE SWING

Susie Arioli Band foi uma das minhas melhores descobertas musicais de 2008. E olha que isso não é qualquer coisa, pois foram muitas as minhas descobertas musicais de 2008!!
Pouco conhecido no Brasil, o grupo, liderado pela cantora Susie Arioli e seu parceiro, Jordan Officer, é uma referência quando se fala em jazz no Canadá. Arioli, além de ser cantora, acrescenta aos arranjos do guitarrista Officer uma bateria econômica, como deve ser. Basicamente a formação é de duas guitarras acústicas, baixo e bateria. Mas contam ainda com um imprescindível sax e, às vezes, uma terceira guitarra. A banda visita grandes standars do jazz norte-americano mas inclui no repertório um cancioneiro country com umas pitadas de pop-rock. É, sem dúvida, um trabalho de grande pesquisa. Ouvi muito os álbuns "Learn to smile again", "Pennies from heaven" e "That's for me"(de longe o meu preferido!). E posso dizer que é jazz e com muito swing! Assitir a uma apresentação desse grupo já é um dos meus desejos para 2009!!!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

PONTA DE AREIA

Ponta de Areia é uma linda canção. A música é do Milton Nascimento e a letra do Fernando Brant. Tem uma história: Fernando Brant era repórter e fez uma matéria sobre o fim da antiga estrada de ferro Bahia-Minas, que ligava Araçuaí, em Minas Gerais, até Caravelas, na Bahia. Ponta de Areia é uma cidadezinha bem perto de Caravelas. Algum tempo depois Brant recebeu uma música do Milton e pensou que tinha tudo a ver com aquela história. Lugares, sons e imagens que são inseparáveis...
Adoro ouvir Ponta de Areia, com a Nana, o Milton, a Elis, e outros. Recentemene a americana Esperanza Spalding gravou a canção. Spalding, cantora e contrabaixista, aparece com força no cenário musical misturando pop, jazz, grooves e música brasileira. Linda, novíssima e cheia de talento. Aproveito para registrar que se eu pudesse teria o meu cabelo igualzinho ao dela, pois é o que sugere o meu estado de espírito atualmente.Voilà!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

HILDA HILST

"me vejo negro, artificioso como quem não se vê. a loucura é sépia. ou talvez pro ovo. a loucura é algures, não em mim. os corvos naquele céu eram de um outro, minha loucura é rajada, esparzida de cores, loucura é escarcéu, é não, é chumbosa, pesada, o olho do cafre sobre aquela que lhe arranja o dinheiro, é inviesada, esquiva, mas vigilante, o olho do meganha sobre o biltre. é nada, é tímida, medrosa, se acasala nos cantos"

trecho de: estar sendo. ter sido. último livro em prosa da autora.

domingo, 21 de dezembro de 2008

MAKELY KA

Makely é meu amigo, fazíamos filosofia, eu em Uberlândia (antes da transferência para a USP) e ele em Ouro Preto, nos idos anos 90. Nos encontramos poucas vezes, em alguns cenários diferentes: Uberlândia, Ouro Preto, Belo Horizonte. O rapaz diz quem é: "Já fui técnico em eletrônica industrial. Já trabalhei como garçom, balconista e abandonei no último semestre o curso de filosofia. Já fiz também uns bicos como videoartista e fotógrafo. Ultimamente ganho uns trocados como um operário da contra-indústria." Seu trabalho AUTÓFAGO merece atenção e as apresentações que vão rolar no Rio de Janeiro, nos finalmentes de 2008, também! Não vou ficar aqui rasgando seda! Confiram o poeta Makely Ka, Kiko Klaus e Pedro Morais.

sábado, 20 de dezembro de 2008

MOI-MÊME


gosto do meu corpo por partes, mais que do todo. monto e desmonto o quebra-cabeças que sou.
e mesmo as partes, para fazerem sentido, precisam do ângulo certo, do momento certo, do olhar certo. componho as partes do que sou. o todo pouco interessa. o todo é apenas uma porção de pedaços, fragmentos e cortes que, às vezes, fazem sentido. o dedo na boca. a mão no bolso. os brincos na orelha. o preto ou o carmim nas unhas. a sandália que mais desnuda do que veste o pé. o rímel preto nos cílios. o cabelo solto, livre e avermelhado. o anel no dedo eleito para ser vitrine. a sobrancelha sem pinça. o olhar que vê o que quer.
sou muito mais feixe do que tronco.

FRAGMENTOS DE UMA NOITE


MINHA RUA


Nasci nesta rua. Rua Brasília. Morei nela até os meus 25 anos. Minha mãe mora nela até hoje. E aqui habita muito da minha infância. Não tem mais o brejo no fim da rua, é verdade, mas ainda tem o quintal da Dona Dulce, com sua horta maravilhosa, oferta certa de um bom chá a qualquer hora. Não tem mais a árvore que meu avô plantou, mas a Dona 'Badia continua morando na esquina. Não tem mais a tranquilidade de outrora, hoje passa muito carro, mas meus sobrinhos e minha filha ainda podem brincar por ali com a salvaguarda de um olhar adulto. Não tem mais o meu avô... e nem a minha prima Edna que, nessa mesma rua, me passou uma 'rasteira baiana' que me deixou sem fala por horas. O leiteiro não passa mais de manhã pra deixar as garrafas de leite na porta, nem a carroça do verdureiro, nem o cara que gritava: "áaaalgodão doce, tróooooca-se a garrafa" (não sobrava uma daquelas garrafas de cor verde em casa, todas viravam flocos doces e coloridos...). Alguns vizinhos se foram, mas agora vejo os seus netos. Antigamente, como consta na escritura da casa, o bairro se chamava Vila das Tabocas, hoje é Bairro Bom Jesus. Foi aqui, na antiga Vila das Tabocas, que meu pai comprou um terreno para construir a casa 'meia-água' em que morou com minha mãe até eu ter uns 12 anos. Depois a casinha foi demolida, lembro muito bem desse dia, meu Tio Paulo com um trator gigantesco foi o responsável pela derrubada. Depois papai construiu o atual sobrado, que era uma das casas mais bonitas do bairro. Lembro das festas de rua, do meu pai colocar suas caixas de som (eram 4 caixas super potentes, gigantescas) para transmitirem a todos os vizinhos as finais da Copa do Mundo ou as quadrilhas de São João. Se essa rua fosse minha eu não mandava asfaltar, queria que permanecesse assim, com as pedras que viram os meus primeiros passos, que sentiram meu coração bater forte e quase sair pela boca quando viu o meu primeiro amor passar. Nessa rua aprendi a andar de bicicleta, aprendi a namorar, desfilei com todas as minhas roupas novas. Nessa rua andava com a minha mobilete azul, presente de 15 anos. Essa rua me viu grávida, me viu bêbada, me viu translúcida. E eu vejo essa rua como minha, sim...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O CERRADO


o cerrado sempre está em mim.
mas não é sempre que posso estar nele.
ser do cerrado, eu sou.
amo as árvores tortas,
a palheta quase infinita de tons verdes.
a paisagem da minha infância.
e como gosto de olhar, olhar e olhar esse cerrado.
adoro os frutos, todos exóticos por natureza
buriti, gabiroba, pequi, cajá-manga,
baru, caju, cagaita.
passei estes últimos dias admirando e saboreando esta natureza.
indo, literalmente, 'catar gabiroba no mato',
com direito a banho noturno em piscina de água
quente, quente, quente, pelando.
ê Minas, ê Góias!
fui e voltei pelo mesmo caminho.
600 km de puro silêncio verde
que não saem dos meus olhos.

VÍCIO

Era cego e ficava o dia inteiro sentado na escadaria da porta da igreja, usava uns óculos escuros de aro vermelho e sempre que passava alguém, estendia o pires que nunca desgrudava de uma de suas mãos. De vez em quando uma moeda tilintava e ele agradecia acenando levemente a cabeça. Ele não precisava daquilo, muitos sabiam, mas estava acostumado ao barulho das moedas que caiam no pires.

ONDE TUDO É NADA

me vejo sob um tapete de águas e montanhas
vôo alto
FASTEN SEAT BELT WHILE SEATED
atravesso um labirinto de nuvens
subo mais
lá em cima as fronteiras são infinitas

e tudo é muito azul
dou um salto
pra fora de mim mesma
nenhum medo
USE YOUR SEAT CUSTION FOR FLOTATION
as nuvens são frias.

domingo, 14 de dezembro de 2008

NOITES CARIOCAS

Adoro festas de 40 anos, a data é bem simbólica e sempre rende um comemoração daquelas!
E ontem não poderia ser diferente, exorcizamos o famigerado AI-5 com uma roda de samba antológica festejando os 40 anos do melhor bar do Rio de Janeiro, o Bip Bip. A noite foi linda demais. Lua cheia no céu, o Bip lotado de gente conhecida. "Quanto riso, oh, quanta alegria!". O livro lançado (o segundo sobre o Bip, pois o primeiro "Bip Bip, um bar a serviço da alegria", foi lançado em 2000, também numa noite de Dezembro) é uma delícia. Quem não tem uma história boa para contar sobre o Bip? Os textos são só um motivo pra gente desenrolar o novelo da memória. E folheando o livro qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma foto bem na página 52? Eu, de cabelo joãozinho, nos idos anos 2000, ao lado de dois ilustríssimos compositores, Walter Alfaiate e Aldir Blanc. Lembro-me muito bem dessa noite, bar cheio, eu, na esquina do balcão, passava a todo momento um belo copo de wisque pro Aldir que, num rompante, levanta-se da cadeira com tamborim na mão e começa a cantar "o bêbado e a equilibrista". Momento lindo, raro e cheio de emoção que fica no memorial dos 40 anos do Bip. Pude repetir a foto só com o Walter Alfaiate, o sambista mais elegante que eu já vi na minha vida, pois o Aldir não deu o ar da graça! Alfredinho estava numa alegria de criança, como todos ali! Deu até uma vontade de carnaval!!
Que venham outras noites e outros livros. Sinto-me parte da história desse bar e dessa cidade, não tem mais jeito!

SULENTA EM FLOR II


Hoje de manhã, ao abrir as cortinas da janela me surpreendi com a quantidade de flocos brancos em cima de um dos vasinhos. Achei meio estranho pois tinha recolhido as plantinhas para dentro por conta da chuva e da umidade (suculentas são bravas e fortes mas água demais podem matá-las rapidinho...) Olhei com atenção e percebi que mais uma das minhas suculentas tinha florido.
Flores que ficam soltas, leves, leves de tão miúdas e delicadas. São como aquelas plumas de dente-de-leão que a gente sopra ao vento. Os flocos estavam dentro de um talo que cresceu e se abriu. Minhas suculentas são apenas alguns vasinhos na floreira do apartamento, mas fazem uma enorme diferença na minha vida.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O QUE RESTA DE UMA NOITE


5 garrafas vazias,
4 mãos virando discos.
3 pares de copos sujos,
2 pratos desconfiados na pia.
1 pedido tranquilo de calma.
A marca dos meus dentes no calo de um dedo.

SUCULENTA EM FLOR I



Suculenta, estrela-flor do meu jardim.


A IMAGEM DO SOM

Adoro fotografar músicos em ação. Acho que é maneira que arrumei para fazer parte do encontro que a música proporciona. E gostaria de levar esse prazer mais a sério, tenho um álbum intitulado MÚSICA, publicado no Flickr. E como grande observadora, sou fã de alguns fotógrafos que realizaram muito bem este trabalho. Um deles é Pete Turner, fotógrafo americano fantástico e verdadeiro mestre da cor. Turner fez as capas de Milt Jackson Sunflower, Wave e Stone Flower do nosso Tom Jobim, entre outros trabalhos belíssimos. Creio que quase todas as capas dos discos da CTI, gravadora de Creed Taylor, produtor musical norte-americano, são de Pete Turner. Vale a pena dar uma olhada no site e conferir as páginas "The color of jazz".
Outro fotógrafo que admiro muito é Willian Claxton, morto em outubro deste ano. Ninguém soube como ele traduzir em imagens o jeito cool de ser do jazz west coast, suas fotografias de Chet Baker são clássicas. Claxton imortalizou em suas imagens grandes nomes do jazz norte americano. As fotografias de Claxton, ao contrário da explosão de cores do Turner, são sóbrias, cleans, todas em preto e branco. Dois gênios do olhar.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A RODA DO DESEJO



Era domingo e era noite.
Ela dançava pra ele,
a música dele.
Sua saia rodava
junto com ela,
linda, vermelha,
rodopiante.
Parecia uma brincadeira,
dessas de quintal, de rua de antigamente.
Ele gostou do que viu,
pavoneou-se todo,
mas não deixou nesga de pano vermelho
entrar no vazio do seu desejo.
"Ele tem venda preta nos olhos",
pensou ela.