quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

VÍCIO

Era cego e ficava o dia inteiro sentado na escadaria da porta da igreja, usava uns óculos escuros de aro vermelho e sempre que passava alguém, estendia o pires que nunca desgrudava de uma de suas mãos. De vez em quando uma moeda tilintava e ele agradecia acenando levemente a cabeça. Ele não precisava daquilo, muitos sabiam, mas estava acostumado ao barulho das moedas que caiam no pires.

3 comentários:

Nico Nicodemus disse...

Curioso, tem um poema meu com temática semelhante no Litheratos. O nome é "Valores". Poderia até dizer que são primos. Mas o vício sempre foi mais talentoso que os valores...

Andrea Nestrea disse...

o problema é quando o vício faz mal e o pires é imaginário.... e a cegueira uma condição pra se querer fazer certas coisas, por ma9is absurdas... o problema do vício é o prazer que dele decorre, apesar...
sei lá... tô falando bobagens, acho..
afff!!

Nico Nicodemus disse...

Ser viciado em algo imaginário: um feitiche, diriam os psicanalistas. Fazer-se de cego para realizar certas coisas absurdas: recalque, negação, diria Freud?
O problema está se o vício resulta em arrependimento posterior. Já o prazer me parece absolutamente necessário.
Ao que me parece o teu texto trata de costumes aos quais não se deseja abandonar, com o risco de haver a dissolução da identidade, do EGO: o cego necessita de ouvir o tilintar da moeda: não é o dinheiro que o atrai. É um vício desnecessário, porém lhe traz prazer. Ao que me parece pouco mal lhe traz: poderíamos dizer que ele poderia utilizar melhor o seu tempo, mas o tempo é dele, não nosso...