segunda-feira, 25 de maio de 2009

BUDAPESTE

“Budapeste” é uma história de amor pela palavra, pela cidade e também de um homem por uma mulher. Li o livro em duas noites seguidas, na época do lançamento. É um livro denso, forte e me envolveu totalmente. O filme não conta com a mesma força, o grande problema das adaptações... Em suas páginas, Chico Buarque explora várias relações binárias, duplas e espelhadas entre Costa e suas mulheres (Vanda e Kriska), a relação de identidade do homem com as cidades, Budapeste e Rio de Janeiro e o amor pelas línguas: o português e o húngaro (a cena no telefone público - vermelho e de ficha!! - traduz isso quando Costa grava suas palavras em uma secretária eletrônica a saudade de falar 'saudade', 'pão de açúcar', 'Guanabara', 'maracanã', 'marimbondo', 'adstringência'). E entendo essas relações como uma contraposição entre o que é essencial e o que é aparente, o que fica absolutamente evidente na relação entre Costa e Vanda. Ele não aparece, é um ghost writer, vive pela palavra, na busca por suas histórias encomendadas, ela é o que se vê na TV, uma fachada, nada mais. Um aparência, o outro essência. Budapeste, no filme, é amarela sépia em uma fotografia que poderia acrescentar de verdade. Essa afirmação pode soar gratuita, mas é assim que vejo, nenhuma surpresa, nenhum grande choque, apenas algumas pequenas variações sobre o olhar de Lula Carvalho que já deixou sua marca em "Feliz Natal". É bom lembrar que a direção é do grande Walter Carvalho, “fotógrafo que dirige”, como ele próprio se define, mas a produção e roteiro de Rita Buzzar (de "Olga", filme que não gosto). Admirei muito, no entanto, a cena em que Kriska e Costa se conhecem (foi o primeiro encontro dos dois atores também). Gosto ainda da cena absolutamente autoral da estátua esquartejada de Lênin a navegar pelo rio Danúbio e confesso que não fica muito claro para quem vê o filme o fato da história acontecer ao mesmo tempo em que é narrada, em que é escrita. Afora isso achei completamente desnecessária aquela “feijoada completa” e sua tradução para o húngaro à beira mar (lembrando Noel Rosa: “o samba não tem tradução”), sem falar que é ridículo traduzir uca, torresmo e etc, a mim soou fake, cartão postal barato da cidade. Detesto Giovana Antonneli e Paola Oliveira e por falar nisso, os nus do filme, apesar de serem lindos, excedem, aquela pitada a mais que muda o sabor. E achei bem bacana o filme ser falado em húngaro, com legendas em português, e não em inglês, como geralmente acontece, finalmente um grande acerto para o cinema nacional!!


Walter Carvalho é diretor de fotografia de "Lavoura Arcaica" e "Cleópatra", entre outros; co-dirigiu "Cazuza - O Tempo Não Para", com Sandra Werneck e "Janela da Alma", com João Jardim, dirigiu ainda o documentário "Moacir, Arte Bruta".

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"A memória É uma ILHA de edição". Essa frase de Wally Salomão ecoa na taça da minha cabeça. É maio, e maio é assim, me invade. Ouço muito "Zona de fronteira", pois me sinto numa, e exponho a capa colorida do disco do trio Wally/Bosco/Cícero, 1999. Chico Buarque também não pára, e ele sorri na capa do disco, dentro de um retrato em branco e preto. Talvez esse seja o meu disco preferido do Chico, 1989. Lembro também da capa daquele disco da Bethânia que ouvi mil vezes ao lado da minha mãe "MEL", e tava ali o Wally, 1979. Macalé também me visita, no começo da noite, junto com um cigarro e uma taça de vinho, apesar do dia quente de hoje. O disco? Real grandeza, parcerias com Wally Salomão. Também aprecio nestes dias de maio a sombra, a luz da tarde e o sol morno, alternadamente. Provocações de sensações sub-reptícias. Tudo em pequenas doses diárias, como uma homeopatia.E penso que eu gostaria de ter um lixo escondido, um armário de sensações com infinitas gavetas e cabides para pendurar e dobrar imagens, desejos, buscas... ou um recepiente que trouxesse estampado o símbolo de "reciclável" na tampa. Se eu fosse o poeta diria "Não fico parado, não fico calado, não fico quieto. Corro, choro, converso e tudo mais jogo num verso intitulado MAL SECRETO."

domingo, 10 de maio de 2009

DIA DAS MÃES

Acordamos tarde. Tomamos café da manhã juntas, na mesa, como poucas vezes ela faz, pois quase sempre quer comer na frente da televisão, o que eu detesto, por isso cortei a TV a cabo. Agora, na TV, só DVD, escolhidos por mim. Depois dançamos, tomamos banho, nos vestimos e passamos o mesmo perfume. Preparei o almoço. Saimos para ir ao mercado comprar papel alumínio e queijo parmesão. Ela levou a boneca japonesa e no meio do caminho queria que eu carregasse, como sempre faz. Eu disse que não iria carregar a boneca, pois cada um deve carregar as suas coisas. Ela chorou e gritou no meio da rua. Esperei, pacientemente, o showzinho terminar e continuamos o trajeto. Cada uma de nós, então, pegamos em um braço da boneca e fomos assim, caminhando de mãos dadas, as três. Ao telefone falei com as avós e com meu pai. Almoçamos, eu e ela, e nos preparamos para um passeio por Laranjeiras, tomamos sorvete e depois fomos ao Oi Futuro. Lemos, ouvimos música e vimos uma exposição de fotografias. Encontramos com a Juju e sua família. Compramos flores, viemos pra casa, recebemos uma visita boa. Depois fomos comprar o maravilhoso pão de queijo da padaria que abriu ao lado de casa. Voltamos pra casa, assistimos um DVD, jantamos e nos preparamos para dormir... Um dia como outro qualquer, com a tarefa cotidiana de 'educar', impor limites, buscar coisas boas para serem compartilhadas, vividas, lembradas.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

MAIO MAIO MAIO

É maio
Feito bóia ébria boiarei
Maio
Filmes rápidos plágios sonharei
E dispenso até a esperança
Contente com a epiderme de um lugar
Que a brisa deste mês beija e balança
É maio
Maio maio maio maio é
Maio
Sonho sonho sonho sonharei
Nenhum monstro em maio me assusta
E até o tempo o devorador
Já sabe que sou em quem o degusta
Maio
E me
Deito
No chão
Céu água-marinha sobre mim
Sem nem
Lembrar
Quem foi que no verão cruel
Veio passo a passo
E seqüestrou meu coração
Mas não levou o céu
Que avisto aqui do chão

Waly Salomão/João Bosco/Antônio Cícero

domingo, 3 de maio de 2009

E AGORA?

final de semana de balanço.
noites com 12 horas de sono.
descanso merecido pós pós.
fiquei nervosa, como nem eu previa, na defesa do mestrado, mas deu tudo certo.
fui aprovada com louvor, altos elogios e indicação do texto para publicação.
o que significa outro trabalho.
mas o incrível é que não sinto alívio.
sim, uma etapa passou, não devo nada a ninguém.
mas devo a mim mesma,
cobrança maior que existe.
sei que quero continuar estudando fotografia, pesquisando, lendo muito, vendo tudo, quero dar aulas, doutorado, pós-doc, o que vier por aí eu topo.
fico pensando nessa minha trajetória cheia de voltas
uberlândia, são paulo, rio de janeiro.
história, filosofia, memória social.
o que significa isso? eu, é claro!
mas não me pergunte pra onde vou!
por isso a falta de alívio.
caminante no hay camino, se hace camino al andar...
então vou por aí...
vou sair e comprar os jornais, desfrutar do sol morno dessa linda manhã de domingo,
não penso que há outra coisa para ser feita agora!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Walter Franco