quarta-feira, 29 de setembro de 2010

POR QUE NÃO VOTO

Não vou votar na Marina porque ela tem um lado reacionário justificado pela sua opção de se vincular à igreja que, por favor, não dá! Não vou votar no Serra pelos motivos óbvios, minha formação de esquerda não permite! Não vou votar da Dilma, porque acho ‘dilmais’ um governo ficar no poder tanto tempo! Não vou votar no Plínio porque ele não vai ganhar mesmo! E no PSTU também não voto porque sequer sei o nome do candidato.
Então, não voto, vou anular o voto em nome do meu lado anarquista que, vez ou outra, me empurra a ser contramão, ladeira à baixo, à contrapelo. E já que pra presidente não vou votar, deixo de lado o meu voto pra governador, o Cabral já ganhou mesmo, então.... Resta a possibilidade de ajudar a escolher os dois deputados, mesmo com nomes certamente honrosos em candidatura, também não vou votar em ninguém. Tenho vergonha do nosso parlamento, o Estadual e o Federal, então, sem chance, NÃO VOTO, NÃO VOTO, NÃO VOTO! Mesmo porque sou contra o voto obrigatório e acho absolutamente repugnante ser obrigado a escolher um cara porque ele é o menos pior. Também não faço campanha pro voto nulo, só manifesto minha posição. E agora, chega de porquês!

FOTO ESCAMBO


uma das coisas mais bacanas do Paraty em Foco foi, certamente, o Foto Escambo. idéia genial do Hans em promover um troca-troca de fotografias da mais alta qualidade e que permitiu outras inúmeras trocas: papos na fila, assinaturas e dedicatórias, divulgação de tantos e tão bons fotógrafos e, mais importante de tudo, talvez, a reunião num mesmo varal de fotos de fotógrafos consagrados com amadores que não fazem feio de jeito nenhum. além disso, o escambo promove um gosto que pode ser eterno, colecionar fotografias. tem coisa mais gostosa do que colecionar imagens que você gosta, escolhe, quer ter perto de você, estampar na sua parede, olhar todos os dias? eu trouxe pra casa fotos de Dani Bado, Geraldo Garcia, Du Ribeiro, Gabriela di Bella, Pepe Melega, Eduardo Muylaert, Dorival Moreira entre outros. ganhei algumas fotos, dei outras... sei que cheguei no rio de janeiro com 12 fotos novas! estou orgulhosíssima da minha pequena coleção. aqui vai uma pequena amostra: a foto do guarda-chuva é da Di Bella, a do menino de Du Ribeiro. estou torcendo pra eles virem fazer um belo varal no FotoRio!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

GEORGES ROUSSE

georges rousse é um típico francês, homem pequeno, observador, super meticuloso e tão, mais tão discreto que está sempre com a mesma roupa, calça e camiseta pretas. na instalação desse grande painel com a sua foto no mercado de peixes de paraty ele quase passou mal. no vocabulário de um homem tão organizado, de pensamento tão meticuloso, racional e super calculado, pouco cabe o que nós, brasileiros, conhecemos bem: o improviso. um pequeno erro de cálculo foi resolvido com uma furadeira e uma ripa pelo caiçara que, sem entender nada daquele trabalho e muito menos patavina daquela língua, era mestre no quebra-galho, doutor na gambiarra, como diríamos. agora vai explicar pro cara o que é gambiarra?! é claro que, no final, tudo deu certo. a obra ficou linda e foi fantástico entender e ver e sentir o trabalho desse homem. lembro de ter visto uma exposição de georges rousse, aqui no rio, na casa frança brasil. extremamente pífia diante do imenso e criativo universo desse grande artista. que bom foi estar em paraty e re-descobrí-lo! sou agora uma grande admiradora!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O QUE RESTA A DIZER

acho triste uma pessoa que não sabe mensurar o quanto recebeu de outra, sinal maior de que não mereceu nada do que lhe foi dado. acho feio não agradecer o que se recebe e, mais ainda, não saber o que se recebeu, principalmente quando nada foi pedido. poucas pessoas sabem dar e elas são raras. acho difícil acreditar em alguém que não acredita em si mesmo. tenho pena das pessoas que vestem uma máscara que é estranha ao seu próprio rosto. nenhuma máscara pode ser estranha ao rosto que a veste. pois quando a máscara cai a decepção de quem vê a realidade é grande demais. e olhar-se no espelho, ao acordar todo dia, depois de todas as fantasias que o mundo oferece e não se reconhecer, também pode ser cruel demais.
sinto pena de homens solitários, pois eles serão sempre solitários, embora vez ou outra enganem a solidão com alguma companhia. a solidão é, na verdade, a sua única companhia. vejo com tristeza o desejo de certas pessoas de fugir do destino delas, de não exergar o presente que a vida deu, dá e dará....  querer conquistar o mundo jogando fora  aquilo que lhe é ofertado não é o melhor caminho...a  maior prova da mentira é quando duas pessoas, depois de dedicarem algum tempo das suas vidas juntas, não conseguem ser cordiais e amáveis entre si. se não sobrou nada é porque nada houve... a maior prova de egoísmo é dar as costas para alguém que te considera imensamente no justo momento em que ela está mais fragilizada e enfraquecida. e o pior pecado é não saber reconhecer esse momento... vaidade é querer construir uma imagem que não cabe na sua vida, na sua luta diária, no prato de comida que você come. tenho pavor de pessoas que querem esquiar na suiça ou velejar nas bahamas e não sabem nem um décimo do que acontece no mundo da pessoa que limpa a sua casa, lava o seu banheiro. tenho nojo de quem não sabe agradecer um carinho sincero, mesmo quando ele vem fora de hora. tenho pena das pessoas que se alimentam e precisam dos eternos presentinhos/brinquedinhos do papai, do titio, do vovô. essa gente nunca vai crescer, nunca vai reconhecer o valor das coisas, nunca vai conquistar nada seu de fato. passar dos trinta anos e não perceber certas coisas é insistir no erro da imaturidade e da fantasia. espero eu estar no caminho certo..

MUDANÇA

um sentimento de não-lugar anda em invandindo, alías, tenho usado bastante essa palavra. o que não é por acaso. queria me mudar, e vou. mas eu queria me mudar mesmo, de verdade, de cidade, de paisagem, de ares. queria dar uma virada de 180 graus, pra cima ou pra baixo ou pros lados. mas a pequena mudança de moradia já vai ser boa. devo me mudar de apartamento em meados de outubro. vou livrar de vários passados e de várias coisas. quero levar somente o que eu preciso e somente o que se refere a mim. não quero levar nada que não seja meu, conquista minha. quero uma casa com a minha cara. não que esta não seja, minha casa sempre foi uma espécie de palácio, de reino, é assim que me sinto em casa...em todos os lugares onde já vivi sempre procurei dar o meu jeito, o meu toque, o meu contorno... mas o fato é que não quero objetos que não sejam meus. vou dar uma geral nos livros, cd's, lp's, quadros, fotos... quero deixar só aquilo que ouço, que li ou vou mesmo ler, o que quero ver todo dia... não vou guardar nada que não tenha uso. a não ser aquele ponche de lã espanhola que guardo pros invernos mais frios, a colcha de cetim metelassado que realmente não sei se usarei algum dia, a rede que meu pai trouxe de uma viagem e que nunca foi usada mas que espero viver num lugar onde eu possa estendê-la e ficar de 'range rede' e as velhas máquinas fotográficas que quero ter ao alcance dos olhos. vou doar uma boa parte das minhas roupas, me livrar de antigas roupas de cama, toalhas gastas, panos de prato surrados. a cozinha também vai sofrer um limpa geral mas, quero guardar ainda a quase insignificante coleção de pequenas xícaras de porcelana e as panelas que eu mais gosto, apesar de não precisar de todas no dia a dia. vou me livrar de papéis velhos, antigas fitas VHS, rascunhos, retalhos e coisas que já nem sei mais porque estão comigo. quero guardar o mais importante em caixas, envelopes e pastas novas, coloridas e em lugar de fácil acesso. quero ser mais organizada ainda, pois só assim minha concentração funciona no pico. não vou ter mais TV a cabo e muito menos TV na sala, TV vai ficar no quarto pra um DVD em dias de chuva... concessão que faço em nome da minha filha, pois se morasse sozinha hoje não teria televisão de jeito nenhum. quero pintar uma das paredes do apartamento de vermelho!

domingo, 12 de setembro de 2010

PALE BLUE EYES

adoro o youtube, e quem não gosta? fonte infinita de pesquisas e viagens no tempo e no espaço. hoje, um bom pedaço do meu ócio é youtube. principalmente agora que aumentei a velocidade da minha internet.... e uma das coisas que eu mais gosto no youtube e ficar ouvindo várias e várias versões de uma mesma música. elejo uma canção memorável e lá vou vasculhar versões. não preciso mais ficar gravando, ao longo de dias, numa fitinha K7, as várias versões 'every time we say goodbye', nem ficar baixando as músicas, uma a uma, do soulseek pra compor a minha pasta no computador somente com as diversas versões de alguma música do caymmi, por exemplo. e hoje eu fui ouvir o disco da marisa monte 'cor de rosa e carvão'. esse é um disco que eu sempre incluo na minha lista de discos preferidos mas, ouço pouco. e descobri o porquê. eu ouvi muito esse disco, assim que foi lançado (1994/1995). foi um período muito gostoso da minha vida, saindo de uberlândia e indo pra são paulo, momento de uma importante conquista, um grande passo em direção à independência e à conquista do meu mundo. e ouvindo hoje o sinto datado demais mas, tem coisas lindas mesmo. qual outra cantora no brasil que gravou george harrinson, paulinho da viola, lou reed e jorge ben em um mesmo disco? essa mistura é muito pessoal e deu um contorno muito bonito ao projeto que soa bastante biográfico, coisa que a cantora leverá bem mais a sério no decorrer de sua correira lançando 'memórias, crônicas e declaraçõe de amor', projeto que inclui fotografias e autorretratos e, posteriormente, o conjunto de dois discos 'universo ao meu redor' e 'infinito particular'. infelizmente não ouvi atentamente esses últimos. bom, mas foi por conta de 'pale blue eyes', essa linda canção, que começei a escrever isso aqui. ouvi algumas das versões seguidamente e conclui que a melhor delas pra mim seria a da banda 'velvet underground', apesar de achar sensacional marisa monte, romero lubambo e naná vasconcelos na versão de 'cor de rosa e carvão' e adorar a verve de patti smith ao interpretar essa música. das versões do lou reed eu não poderia falar mas, aí me deparei com ele e pete townshend cantando juntos e desbundei, a melhor pra mim, sem dúvida!

sábado, 11 de setembro de 2010

SEPTEMBER SONG

tenho especial apreço pelos meses de abril e setembro. nasci em abril, pleno outono. e adoro setembro, mês que mistura uma certa frescura do inverno com o sol caloroso da primavera. adoro ver flores brotando como adoro ver folhas caindo. círculo da vida. e hoje, pra combinar com uma certa melancolia fora de época, acordei com vontade de ouvir o lindo disco "sarah vaughan with clifford brown'. e neste disco tem as canções 'september song' e 'april in paris'. canções que me fizeram prometer a mim mesma que ainda vou passar um outono em nova york e uma primavera em paris. promessa que já é uma dívida comigo mesma. esse disco, além do trompete de brown e da voz de sarah vaughan, ainda tem a flauta de herbie mann, o piano de jimmy jones e o sax de paul quinichette, entre outros feras. quase todos negros e todos muito jovens. as fotos são assinadas pelo craque william claxton. escolhi pra postar 'september song', que, apesar de trazer o clima outonal do hemisfério norte, homenageia esse mês que me renova, me agrada e me presenteia. vale a pena ter esse disco ao alcance das mãos, sempre.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

VILA VENTA


há exatamente um ano eu brincava com o vento que soprava. há um ano eu ria como uma criança. o lugar era vila velha, no alto de um morro, lugar bom pra se ver toda a cidade e o bonito encontro no horizonte do mar azul com o céu anil. vila velha venta muito. e o vento de lá brincou comigo. deu voltas em mim, me fez feliz. ah, que saudade de brincar com o vento...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

SOBRE O CERRADO E SOBRE MIM

o cerrado tem um alquimia muito própria, como todos os lugares, mas é aqui que o céu tem mil cores, uma luz única, um luar resplandencente, uma noite cheia de estrelas e uma natureza que se renova marcando perfeitamente o seu tempo. aqui é o meu lugar de origem, chão de onde brotei, lugar onde me sinto em paz e em equilíbrio. é nesse ambiente que me recolho pra 'muda', troca das penas, da pele, da casca, renovação total, reciclagem geral de sentimentos. banho nas cachoeiras que me viram tantas vezes, do sol da manhã na porta da casa da minha infância, os velhos e bons amigos que, mesmo de longe e mesmo com o passar dos anos e de todas as diferenças, me amam e me respeitam. aqui eu tenho o carinho e o amparo incondicional da minha querida família, o tempero da minha mãe, o cheiro da minha tia, o olhar de meu pai. aqui admiro as flores que eu, desde muito menina, colhia num buquê de variedade enorme - as flores do cerrado, tão pequeninas, secas e duradouras. aqui é quente de dia e fresco a noite. aqui enxergo o meu avô cortando cana pras crianças da casa, sorrindo pra mim, trazendo das suas caminhadas belos ramos de canela pra encher a casa com o aroma do chá que eu mais adoro. aqui meu pai sempre chega. aqui me lembro do homem que passava com um carrinho dizendo: "algodão doooce, trooooca-se a garrafa." e corríamos juntando todas as garrafas verdes e amarelas dos vizinhos pra trocar pela nuvem colorida de açúcar que derretia na boca.... aqui, na infância, trocávamos fios de cobre por pipoca, brincávamos de pique-alto, carimbada, de pular corda. aqui, na rua da minha casa, até hoje calçada de paralelepípedos, quase nunca passava carros, a rua era nossa e no final dela morava um brejo com tabocas altas e rãs branquinhas que pegávamos pra comer. minha mãe odiava que eu usasse as panelas dela pra fazer rã... aqui tem um pé de cajamanga docinha e uma vizinha com horta verde, verdinha, cheia de cebolinha, salsinha, couve fresca, xuxu. aqui sempre tem algum vizinho chegando de alguma fazenda carregado de baldes ou caixotes de manga, laranja, cachos de banana, tudo dependendo da estação. aqui me lembro com imensa nitidez da amiga de infância da minha bisavó, já bem velhinha, sentada no portão de sua casa, tomando a fresca - eu sempre gostei de conversar com ela sobre a minha vozinha. aqui vejo os meus sobrinhos crescerem, meu pai envelhecer, minha mãe se renovar e descobrir outros mundos. aqui vejo meus traços no rosto da minhas irmãs. aqui me vejo sem precisar de espelho algum. aqui tudo sou eu.  pro cerrado eu sempre volto, sempre voltarei. essa paisagem é minha e aqui eu também sou paisagem.