quarta-feira, 27 de abril de 2011

VER COM OS SENTIDOS

"A fotografia não é uma propriedade exclusiva das pessoas que vêem, mas também uma propriedade possível dos cegos." Evgen Bavcar. 


o trabalho de evgen bavcar é absolutamente incrível, cego desde os 11 anos de idade, ele nos revela um mundo que escapa aos olhos de quem vê. seus sentidos veem por ele, ele vê através de tudo... esse nu entre luzes lembra muito um autorretrato que fiz. eu não conhecia essa imagem até hoje, mas dialogo com ela. o autorretrato está aqui.

terça-feira, 26 de abril de 2011

REVOLUÇÃO DO OLHAR RUSSO



esse vídeo, um tanto didático, que achei no youtube, nos dá uma visão geral do que foi a vanguarda russa em termos de imagem. a exposição 'Aleksandr Ródtchenko: revolução na fotografia' que esteve em cartaz no Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro e fica até 01/05 na nova Pinacoteca do Estado, em São Paulo, é uma das mais bonitas e bem montadas exposições que eu já pude ver em toda a minha vida. praticamente todas as ampliações são de época, vintage, como se diz hoje em dia, e feitas pelo próprio Ródtchenko, ou seja, são verdadeiros tesouros. nunca vi nada tão precioso em fotografia. e olha que tive em mãos alguns retratos de Nadar de meados do século XIX, verdadeiras jóias, quando fui bolsista da Biblioteca Nacional. o que faz essas imagens serem tão preciosas, no entanto, é o conjunto delas. estão expostas no Brasil uma parte considerável do acervo e do olhar de Ródtchenko que foi pintor, escultor e designer gráfico, além de excelente fotógrafo. imperdível pra quem está em São Paulo. eu passei duas tardes maravilhosas apreciando esta exposição na sede do IMS aqui o Rio, com direito a cafezinho, dia de sol e boa companhia. recomendo o catálago da exposição!

sábado, 23 de abril de 2011

DOMENICO - 2 (+ X + Y + Z) = CINE PRIVÊ

o título do post não é uma provocação, mas uma preposição que, contrariando a matemática e a lógica, só eu posso afirmar. confesso que só voltei meus olhos pra domenico e sua turma, o tal projeto +2, depois que eles assinaram a trilha sonora do grupo corpo. tenho muita, muita preguiça pras coisas novas que pintam por aí, principalmente no cenário musical do rio de janeiro. minha opção primeira, segunda e terceira é sempre ouvir os meus velhos discos de jazz ou música instrumental. curiosidade, no entanto, é uma coisa que sempre tive e acabei tendo em mãos e ouvidos o disco 'cine privê'. ouvi uma vez e senti um certo estranhamento, o que é um bom sinal. foi fácil apertar o play novamente e o 'disco rodou' algumas vezes aqui em casa. eu só vi domênico duas vezes, a primeira foi durante um show de silvia machete no oi futuro e depois, em outro oi futuro, na peça do domingos de oliveira. obviamente que já tinha visto, em dvd, o 'adriana partimpim 2' com a minha filha e o cara tá lá na bateria e tals.. bom, mas tudo isso pra começar a falar do disco. acho que pra dizer certas coisas precisamos nos situar, é bom que o leitor saiba de onde estou falando, por isso a necessidade de tantas palavras, por mais banais....  eu gosto do disco. tem uma  sonoridade ímpar, deliciosos barulhinhos e uma voz que parece que tá aqui ao lado, no sofá da sala. não sei se isso é um elogio, obviamente que são impressões. as músicas que mais gostei são 'os pinguinhos' (parece uma brincadeira com uma criança ou, pelo menos, com o universo infantil) e 'pedra e areia', que é demais de boa. adorei a canção que fala italiano, vi ao vivo antes de ouvir o disco e gostei bastante, foi a porta de entrada para o disco. mas a minha preferida talvez seja 'sua beleza', foi ouvindo essa faixa que meu pensamento musical vez links com outras coisas que ouço... e falo aqui de memória musical, antes de tudo, e de paisagens sonoras, imagens que cantam, fotografias que dançam, miragens... enfim, 'X', 'Y' e 'Z' são variáveis, imagine cada uma delas... ouça o disco, veja o filme!

terça-feira, 19 de abril de 2011

TUAREG

'mas ele é guerreiro, ele é bandoleiro, ele é justiceiro, ele é mandigueiro, ele é um tuareg!'
essa noite deu uma vontade avassaladora de ouvir gal costa dos bons e velhos tempos. meu disco preferido dela é o 'cantar', mas pra dar uma arejada resolvi ouvir esse LP, que é de 69, chave de ouro pra essa década louca... infelizmente o meu vinil não tá em boas condições e recorri ao youtube pra ouvir as faixas desse disco que é um dos mais experimentais e radicais de gal costa. pouco visitado, é certo, mas absolutamente incrível e ousado! psicodelia, rock, experimentalismos totais... aí tem jards macalé, guitarra de lanny gordin, capinam, roberto e  erasmo, caetano, tudo junto e misturado com uma boa dose de fúria. eu adoro a segunda faixa do lado A, 'tuareg', música de jorge ben, o jor, que tem o mesmo título do livro de alberto vasquez-figueiro, livro que eu ainda li mas quero muito ler. dizem que 'tuareg', nome de origem árabe, significa 'abandonado pelos deuses'. os tuaregues são um povo, homens que vivem há milênios no deserto do sahara, ou seja, é um povo bravo é forte! aumente o volume e faça da sua sala uma pista de dança!

PARADA CARDÍACA


essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.

vem da zona escura
donde vem o que sinto.
sinto muito,
sentir é muito lento.

paulo leminski


domingo, 17 de abril de 2011

ARÍCIA MESS

arícia mess é uma cantora cheio de gestios e dona da voz. seu disco 'onde mora o segredo' é todo bem cuidado e eu recomendo! fui no show que aconteceu aqui no rio de janeiro no dia 02.04. quem tiver oportunidade de vê-la cantar, não perca! as outras fotos estão aqui.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O CADERNO AMARELO

'caminhar de mãos dadas atravessando estações' é uma das páginas d'o caderno amarelo'. 'o caderno amarelo' era pra ter sido uma homenagem, uma declaração de amor, a tradução de uma vontade de estar junto, um gesto de absoluta entrega e motivação. quando ele começou a ser 'escrito' existia tudo o que movia, existia uma admiração incondicional e um afeto cego que se foi como éter, evaporou, desapareceu, num átimo, num istmo, num lapso... o caderno ficou inacabado e, por motivos não aleatórios, ficou sem meio, ficou sem fim. o caderno é a materialização de certas frases, de certos momentos, de alguns desejos e constatações que a gente só tem quando está apaixonado e vive num mundo onde só cabem duas pessoas. 'o caderno amarelo' foi entregue a quem ele foi dedicado inicialmente, mas acabou sendo devolvido. eu pedi que ele me devolvesse. e ele me devolveu. se fosse eu a pessoa que tivesse ganhado esse caderno, eu juro, jamais devolveria, guardaria pra sempre... por isso, esse caderno pertence a quem o concebeu. e apesar de tudo o que o  inspirou não existir mais - e talvez nunca tenha existido, esse caderno, quando começou a ser escrito, era só desejo de querer bem, de bem querer... nada que o originou previa que seu fim seria ficar dentro de um envelope pardo, escrito 'apto 1215' a caneta azul, no fundo de uma gaveta escura...suas folhas agora são uma espécie de lembrança de algo perdido, de algo que não faz e não fez nenhum sentido. é uma espécie de memória de um lugar que a gente conhece e mas não sabe mais como chegar... segue aqui o link para quem quiser ver o caderno inteiro, mesmo sem fim...: o caderno amarelo no flickr.

terça-feira, 12 de abril de 2011

JUAN RULFO

"no filtro as gotas caem uma após a outra. ouve-se, saída da pedra, a água cair dentro do cântaro.
ouve-se. ouvem-se ruídos; pés que se arrastam no chão, que andam, que vão e vêm. as gotas continuam caindo sem parar. o cântaro transborda fazendo a água correr sobre um chão molhado."
trecho de 'pedro páramo', foto de juan rulfo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

SATURDAY SUN

dia desses, melhor dizendo, sábado desses, sai de casa pra trabalhar mais cedo. fazia uma manhã ensolarada e eu, de dentro do ônibus, o 434 que passa no flamengo e vai em direção ao leblon pela lagoa, fiz uma série de fotos. queria traduzir um pouco como é ver a cidade de dentro de um ônibus em alta velocidade. eu gosto de fazer esse caminho, adoro passar pela lagoa. é um dos cenários mais bonitos do rio. e é dentro desse cenário que penso o quanto é bom viver nessa cidade. a inspiração pras fotos foi, na verdade, a música de nick drake, que dá nome ao post, 'saturday sun'. adoro nick drake e estava ouvindo o disco que tem essa música sem parar nestes dias. pra ver mais fotos, é só clicar aqui.

domingo, 10 de abril de 2011

KEITH JARRETT NO RIO

ontem tive uma noite especial, fui ao theatro municipal do rio de janeiro pra ver o concerto solo de um dos maiores pianistas do mundo. nem sei dizer quando conheci o trabalho de keith jarrett, mas desde sempre gostei. do clássico 'koln koncert' ao último disco, 'jasmine', sempre que posso e cabe, ouço o cara. tenho dois DVD's, 'último solo' e 'the art of improvisation'. queria muito ter o concerto de colônia (köln  concert) em CD, pra poder ouvir sempre, mas não tenho, infelizmente. confesso ainda que um dos meus maiores desejos e assistir a uma apresentação de keith jarrett com o jack dejohnette e gary peacock, o trio de ouro! de qualquer modo, o concerto de ontem foi lindo e emocionante, com direito aos gemidos, sussurros e grunhidos tão tradicionais do pianista. keith jarrett é sexy aos 66 anos e revelou uma maneira de tocar que eu, realmente, nunca tinha visto. uma agilidade absurda, uma intimidade ímpar com o instrumento. show!! vesti o vestido que melhor me veste, usei meus brincos mais preciosos e fui para o municipal apreciar o espetáculo. theatro lotado, todo mundo em silêncio, não vi ninguém fotografando (ele odeia ser fotografado), uma beleza de público, fiquei orgulhosa do rio. e nos dois set's de 40 minutos cada, e nos três bis, fui levada por diversas paisagens sonoras que nunca vão sair da minha cabeça. sai leve e plena do theatro municipal. e digo que só experimentei sensação parecida em minha vida no dia que terminei de ler 'grande sertão veredas' do guimarães rosa. fui dormir repleta de paisagens e aventuras!
foto da apresentação na sala são paulo, 06.04.