fotografia de felipe cohen
procuro cultivar o gesto de falar sobre imagens que me inspiram. e algumas delas, especialmente, me instigam de maneira desconcertante . e desde que vi essa fotografia sinto-me estimulada a falar algo. precipito-me, portanto , nesse exercício e corro o risco do óbvio ululante e de não conseguir tampouco traduzir em palavras aquilo que vejo .
o que mais seduz nessa imagem e a sobreposição dos tempos que se mostram. há o tempo do instantâneo , do click, o tempo do agora , em que a ruína está sendo escamada e descascada para receber um outro tempo , o futuro do presente , expresso no olhar atento e concentrado da mulher que reflete sobre aquele espaço como uma conjugação do passado com o presente e o futuro . tudo se revela no tempo suspenso da observação da ruína e que se sustenta no gesto indagador .
os tons e semi-tons amarelados das paredes descamadas e dos cabelos da mulher caminham, de maneira sutil , em direção a um sépia que aponta, decisivamente , para uma névoa de tempo que paira sobre a imagem . e no exato instante que esse névoa de tempo começa a se dissipar, a imagem se volta para o passado , mais precisamente , pode-se dizer , para o passar dos anos , à ação do tempo sobre as coisas . e mais do que mostrar épocas distintas ou a idade das coisas , essa fotografia é pura memória do tempo . viva , transformadora e inquietante.
3 comentários:
Como assim risco do óbvio e n conseguir traduzir em palavras o q v e sente? Sempre sou chacoalhada c seus escritos, nunca a mesmice, sempre enxuto, certeiro! N sei o q me toca mais, a imagem ou as palavras...
Déa
q bom q vc voltar a escrever aqui.
essa orfandade eu ñ queria.
e concordo com juju acima "N sei o q me toca mais, a imagem ou as palavras..."
estava com saudades de ler.
bj
Lina
Linda imagem, o texto poesia pura. Imagem e palavra em sintonia total. Adoro ver as imagens que você colhe no meio desse universo imenso da fotografia. Inspiradoras sempre.
Também adoro ver as suas imagens, quero mais!
bjs
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