sábado, 20 de dezembro de 2008

MINHA RUA


Nasci nesta rua. Rua Brasília. Morei nela até os meus 25 anos. Minha mãe mora nela até hoje. E aqui habita muito da minha infância. Não tem mais o brejo no fim da rua, é verdade, mas ainda tem o quintal da Dona Dulce, com sua horta maravilhosa, oferta certa de um bom chá a qualquer hora. Não tem mais a árvore que meu avô plantou, mas a Dona 'Badia continua morando na esquina. Não tem mais a tranquilidade de outrora, hoje passa muito carro, mas meus sobrinhos e minha filha ainda podem brincar por ali com a salvaguarda de um olhar adulto. Não tem mais o meu avô... e nem a minha prima Edna que, nessa mesma rua, me passou uma 'rasteira baiana' que me deixou sem fala por horas. O leiteiro não passa mais de manhã pra deixar as garrafas de leite na porta, nem a carroça do verdureiro, nem o cara que gritava: "áaaalgodão doce, tróooooca-se a garrafa" (não sobrava uma daquelas garrafas de cor verde em casa, todas viravam flocos doces e coloridos...). Alguns vizinhos se foram, mas agora vejo os seus netos. Antigamente, como consta na escritura da casa, o bairro se chamava Vila das Tabocas, hoje é Bairro Bom Jesus. Foi aqui, na antiga Vila das Tabocas, que meu pai comprou um terreno para construir a casa 'meia-água' em que morou com minha mãe até eu ter uns 12 anos. Depois a casinha foi demolida, lembro muito bem desse dia, meu Tio Paulo com um trator gigantesco foi o responsável pela derrubada. Depois papai construiu o atual sobrado, que era uma das casas mais bonitas do bairro. Lembro das festas de rua, do meu pai colocar suas caixas de som (eram 4 caixas super potentes, gigantescas) para transmitirem a todos os vizinhos as finais da Copa do Mundo ou as quadrilhas de São João. Se essa rua fosse minha eu não mandava asfaltar, queria que permanecesse assim, com as pedras que viram os meus primeiros passos, que sentiram meu coração bater forte e quase sair pela boca quando viu o meu primeiro amor passar. Nessa rua aprendi a andar de bicicleta, aprendi a namorar, desfilei com todas as minhas roupas novas. Nessa rua andava com a minha mobilete azul, presente de 15 anos. Essa rua me viu grávida, me viu bêbada, me viu translúcida. E eu vejo essa rua como minha, sim...

Um comentário:

Anônimo disse...

Doces memórias, menina! Quase choro, quase.
Lu