quinta-feira, 9 de junho de 2011

SOBRE BLOGS, AUTOPROMOÇÃO E A DONA CRÍTICA

trecho do pertinente e instigante texto de bernardo carvalho publicado no blog do Instituto Moreira Salles:
"A diferença entre o diário íntimo e o blog pessoal é o que me faz ter horror dos blogs. E só agora, passado o momento em que tudo era novidade e surpresa, é que me lembro disso. Porque já não tenho o que dizer. Que é que vou dizer se o que eu penso ofende sempre pelo menos uma pessoa próxima? Se eu fosse escrever num blog o que se escreve nos diários, em uma semana já não tinha amigos (nem herança). E esse é um escrúpulo que o autor do diário não tem, porque, em princípio, não escreve para ser lido nem publicado (em vida, pelo menos). O blog, ao contrário, é escrito só para isso, descaradamente. Seu objetivo primeiro e principal é se fazer publicar e ser lido. A ideia é fazer, mais do que amigos, “seguidores”. A medida da qualidade do blog pessoal é o número de acessos, como aliás quase tudo na internet. E daí que o que se escreve num blog pessoal é sempre calculado, por mais íntimo, verdadeiro, grosseiro ou ofensivo que pareça. É sempre a imagem que o autor quer vender de si, seja ela qual for. O blog é herdeiro do marketing pessoal. Vive de e para a autopromoção. O que ele mostra é o que o autor quer mostrar de si. Tanto faz se é por vaidade, por narcisismo ou por carência. É o oposto do diário. Ninguém quer perder amigos."

E daí eu me  pegunto: será que é esse o motivo pelo qual as pessoas não se sentem à vontade em dizer o que realmente pensam? será que em tempos de internet, facebook e twitter estamos condenados a colecionar seguidores, fãs e  gente que bomba  o botão 'curtir' e a tecla 'compartilhar' e a morrer sem ouvir alguém dizer o que realmente acha sobre o nosso trabalho, nosso texto, nossa foto/piada/música? lembrando que seguidor de blog ou de twitter, contato de facebook e outras personalidades virtuais não são necessariamente 'amigos'. em tempos de internet tudo é ilusório e nos cercamos em uma prisão mental da vaidade que não há como fugir, a não ser se auto-deletando, se auto-excluindo... creio que nem toda crítica é destrutiva, eu procuro ouvir e aceitar e entender, sempre tentei. o exercício é difícil, desafio da vida, mas, sim, acho que a internet, apesar de toda a graça, significa o fim do pensamento crítico. se você fala mal ou se diz contra é simplesmente deletado, excluído ou bloqueado. o mundo virtual, nesse sentido, mais do que buscar a autopromoção de pessoas e de grupos, nem sempre talentosos, é uma massificação do pensamento, uma padronização do gosto, de imagens, de sons. fabricamos assim um mundo que nos é alheio e que não existe na esquina quando viramos a rua. não adianta ter mil seguidores se você almoça sozinho, acorda sozinha e planeja a sua próxima viagem independente de quem vai, ou não, te acompanhar. e assim as pessoas não conseguem mais falar o que pensam por medo de perder o amigo/seguidor/elogio fácil. mas o que fazer pra ressuscitar essa velha senhora aposentada, a dona crítica, no nosso mundo dos diários íntimos publicáveis?

3 comentários:

Salsa disse...

Questão pertinente e incômoda, não é? Expor uma opinião implica em sujeitar-se às críticas. Aí, amiga, o bom e velho narciso sobe nos cascos.
O texto suscitou uma boa dose de mal estar nesse velho blogueiro.
Lembro-me que, há um bom tempo, cheguei a escrever sobre discos que eu não gosto. Foram poucos... ficou por aí.

Fred Monteiro da Cruz disse...

Andrea..Fiquei surpreso e encantado ao mesmo tempo, com a qualidade de texto e imagem do teu blog.. Mas, principalmente, com a facilidade que vc tem de colocar de forma tão simples questões tão importantes, analisando-as de maneira elegante e inteligente. Uma frase em especial sintetiza toda uma angústia existencial de quem se mete nesse atual mundo cibernético tão imediatista, fascinante e ao mesmo tempo tão difícil de entender:... "mas o que fazer pra ressuscitar essa velha senhora aposentada, a dona crítica, no nosso mundo dos diários íntimos publicáveis?".. Bom.. com minha pequeníssima experiência de blogueiro de 5 meses, nem tinha parado pra pensar nisso. Mas sabe o que me ocorre, como comentário / resposta (não-definitiva, como tudo na vida)? Let it be.. Deixo rolar solto o pensamento e esqueço qualquer possibilidade de crítica ou auto-crítica.. Afinal, escrevemos, filosofamos e expomos nossas "artes" mais pra nós mesmos. Se a alguém mais interessar possam esses nossos diários digitais, ótimo. Se não, fazemos de conta que somos lidos, comentados e queridos. E só.. precisa mais? Abração !

Andrea Nestrea disse...

oi, fred, obrigada pelos elogios. i like it! haha. sim eu, menos fina, decretei um foda-se. lei it be...
mas a crítica é importante, e talvez a auto-crítica seja a mais importante. e o bom é saber dosar, eis o segredo. a dose certa, até veneno faz bem se a dose é correta. volte, conversaremos!