sábado, 17 de outubro de 2009

NOVO ADEUS A HÉLIO OITICICA


Um incêndio destruiu hoje inúmeras obras do artista plástico Hélio Oiticica. As obras estavam na casa do irmão dele, no Jardim Botânico, aqui no Rio de Janeiro. É absolutamente triste e lamentável uma notícia dessas. O prejuízo financeiro, calculável, ultrapassa US$ 200 milhões. Mas não existe cálculo para esta perda para nós brasileiros. Uma lástima! É uma outra morte, um novo enterro de um artista absolutamente criativo, genial e único! Se não fosse Oiticica não teríamos a identidade visual e plástica da Tropicália tal como conhecemos hoje. TODOS os Parangolés foram queimados, os originais e as réplicas, o que impede que sejam novamente reproduzidos. Ao que se diz, cerca de 90% das obras do artista foram perdidas. Pelo que foi dito salvaram-se os desenhos e os Metaesquemas. Restam ainda as obras das coleções particulares e de acervos de museus do mundo, ou seja, Helio Oiticica agora, só importado!! A importante série Cosmococas, que eu particularmente adoro!, está no Museu de Inhotim, em Minas Gerais. Agora eu me pergunto: o que o acervo de Hélio Oiticica estava fazendo na casa do irmão? Essas obras não deveriam estar guardadas, como ouro que são - ou eram, no Centro de Arte Hélio Oiticica? E o Centro de Arte Helio Oiticica não deveria estar apto a abrigar essas obras nas melhores condições possíveis para um artista desse quilate? Mas a realidade é outra, o Centro está às traças ali na Praça Tiradentes. Sorte nossa que os Penetráveis, recentemente vistos em exposição precocemente interrompida por uma pinimba entre a família e a prefeitura, ainda estão lá e não foram queimados. Alguém pode me dizer que país é esse? Um país que não sabe valorizar, guardar, conservar e manter o seu patrimônio artístico merece receber os louros de sediar uma olímpiada? Pra mim, um país que trata sua memória ateando fogo nas suas melhores obras, é cartão postal fake, um arremedo, um retalho, um trapo qualquer. Precisamos caminhar muito, muito!!! Precisamos aprender com Hélio Oiticica, mesmo depois de queimado vivo! E como se não bastasse o fim das obras do multiartista Hélio Oiticica, o fogo levou tambem as fotos e os negativos do invrível fotógrafo José Oiticica Filho, pai de Hélio e importante nome da fotografia brasileira. E confesso, não posso conter o choro, mistura de raiva e de tristeza. Estou indignada e como acredito que a indignação é a última arma de um tolo, escrevo!

Caetano Veloso veste parangolé de Oiticica.

6 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Não fique triste, Andréa,
O Parangolé Pamplona a gente mesmo faz e creio que o Hélio odiaria ser uma "marca" de 200 milhões de dólares.
Talvez essa tenha sido a sua última diabrura, seu último tapa ba cara do "establishment", seu "tiro nas lebres de vidro do invisível".
Sejamos marginais, sejamos heróis.
Vivamos esses nossos disparates sob medida, sejamos verbetes no fabulário geral do delírio cotidiano.
E viva Bukowski também!

Andrea Nestrea disse...

concordo érico,ele odiaria ser essa marca, marco.
fico pensando nessa possibilidade de autocombustão de uma obra tão inspiradora, inflamável por si mesma.
mas entendo todo o episódio como uma espécie de alegoria, nós brasileiros cuidamos assim do que é nosso....
o que nos resta é ser herói, ser marginal, na desmedida certa!
voilá!

cris K disse...

af! descaso.
a arte não poderia ser tratada como um arquivo pessoal de família. a perda de um acervo fotográfico é a perda de um momento da história, apagar uma imagem é apagar um conhecimento. ai que revoltante! infelizmente não consigo mesmo reconhecer essa destruição como um processo artísitico. para mim não passa de um descaso, tratar uma parte importante da arte brasileira como um carro que pode ficar guardado na garagem. grr...
sem beijo
cris

Jão Dias disse...

Com seguro ou sem seguro estamos órfãos das obras do Oiticica, o maior artista brasileiro do século XX. Agora dá-lhe público para restauro do que restou!

Cibele Gardin disse...

Caju-Kleemania..."devolver a terra à terra"...

Klee diz que "para decolar da terra, exercemos um esforço por impulsos", que "nos elevamos sobre ela sob o império das forças centrífugas, que triunfam da gravidade". Acrescenta que o artista começa por olhar em volta dele, para todos os meios, a fim de apreender o sinal da criação no criado, da natureza naturante na natureza naturada; e depois, instalando-se "nos limites da terra", ele se interessa pelo microscópio, pelos cristais, pelas moléculas, pelos átomos e partículas, não pela conformidade científica, mas pelo movimento, nada mais que pelo movimento imanente. Mille Plateaux - Deleuze e Guatari

Vanessa David Justo disse...

Obrigada pela visita ao meu blog, Andréa!
O seu está lindo! Adorei aquela foto da rocinha (no cabeçalho).
Um abraço enorme!
Vanessa.