
Um incêndio destruiu hoje inúmeras obras do artista plástico Hélio Oiticica. As obras estavam na casa do irmão dele, no Jardim Botânico, aqui no Rio de Janeiro. É absolutamente triste e lamentável uma notícia dessas. O prejuízo financeiro, calculável, ultrapassa US$ 200 milhões. Mas não existe cálculo para esta perda para nós brasileiros. Uma lástima! É uma outra morte, um novo enterro de um artista absolutamente criativo, genial e único! Se não fosse Oiticica não teríamos a identidade visual e plástica da Tropicália tal como conhecemos hoje. TODOS os
Parangolés foram queimados, os originais e as réplicas, o que impede que sejam novamente reproduzidos. Ao que se diz, cerca de 90% das obras do artista foram perdidas. Pelo que foi dito salvaram-se os desenhos e os
Metaesquemas. Restam ainda as obras das coleções particulares e de acervos de museus do mundo, ou seja, Helio Oiticica agora, só importado!! A importante série Cosmococas, que eu particularmente adoro!, está no Museu de Inhotim, em Minas Gerais. Agora eu me pergunto: o que o acervo de Hélio Oiticica estava fazendo na casa do irmão? Essas obras não deveriam estar guardadas, como ouro que são - ou eram, no Centro de Arte Hélio Oiticica? E o Centro de Arte Helio Oiticica não deveria estar apto a abrigar essas obras nas melhores condições possíveis para um artista desse quilate? Mas a realidade é outra, o Centro está às traças ali na Praça Tiradentes. Sorte nossa que os
Penetráveis, recentemente vistos em exposição precocemente interrompida por uma pinimba entre a família e a prefeitura, ainda estão lá e não foram queimados. Alguém pode me dizer que país é esse? Um país que não sabe valorizar, guardar, conservar e manter o seu patrimônio artístico merece receber os louros de sediar uma olímpiada? Pra mim, um país que trata sua memória ateando fogo nas suas melhores obras, é cartão postal
fake, um arremedo, um retalho, um trapo qualquer. Precisamos caminhar muito, muito!!! Precisamos aprender com Hélio Oiticica, mesmo depois de queimado vivo! E como se não bastasse o fim das obras do multiartista Hélio Oiticica, o fogo levou tambem as fotos e os negativos do invrível fotógrafo José Oiticica Filho, pai de Hélio e importante nome da fotografia brasileira. E confesso, não posso conter o choro, mistura de raiva e de tristeza. Estou indignada e como acredito que a indignação é a última arma de um tolo, escrevo!
Caetano Veloso veste parangolé de Oiticica.