sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SUB-REPTÍCIA

Hoje, indagada pelo meu querer, descobri uma obsessão. Uma destas que vive nos rascunhos. Brigo com ela: "Cai fora, intrometida! Vê se te manca, sua maluca! Vai procurar sua turma!" Mas a dita parece que não ouve ou faz de conta que não é com ela. Aumento o som para que os vizinhos não ouçam. GRITO. Ela nem se move. Então eu fujo. Bato a porta, desço as escadas correndo e ganho a rua. Ando pelas calçadas meio que às cegas... míope que sou vejo somente as coisas: uma mochila verde, um vestido estampado, sacolas de plástico... tudo num vai e vem... O tempo muda, "raindrops keep falling on my head", procuro abrigo na lancheria. Peço uma bola de sorvete de creme, doce, gelada e um café preto, quente e amargo. Como um ácido o café betume agride o sorvete. Sorvo com delicadeza o líquido que me provoca. A chuva para e volto para casa calmamente. Abro a porta devagar e de dou de cara com ela, que não arredara o pé, a obsessão
sub-reptícia de ser exatamente isso que sou eu mesma.

2 comentários:

nora disse...

Sorvo com delicadeza o líquido que me provoca. UAU! gostei do texto Deia. olha, postei la no meu blog falei de vc, me diz se está td bem ou não.
bjs

Nico Nicodemus disse...

"Como um ácido o café betume agride o sorvete"

Sem palavras.